quinta-feira, 17 de maio de 2012

Somos Portugal, Somos Mundo


Grécia deu-nos a Europa, Portugal deu-se ao Mundo.

Da Europa, um só povo une, todos as regiões do sul, todas os lugares da Atlântida e confins do Oriente. Um só povo reúne, no seu vasto mar, as  índicas águas que apontam a terra e nela abraça com sua bandeira, os povoados gélidos do norte, as florestas e os desertos africanos, todos os lugares esquecidas  gentes encontradas. Um só povo europeu é maior que seu território… um povo que é, Portugal!
Sussurra-me ao ouvido, um país, onde não esteja um português, por entre os quatro cantos do mundo e mais, talvez...
Em todos eles estivemos ou estamos ainda, sem a estranheza dos que não se mesclam e se embebem na cultura das gentes locais. De todos somos um pouco, em todos estamos, com propriedade, estivemos ou estaremos sempre. Se um houver, um que não seja pertença nossa, é porque não é nem terra nem mar, e de lá nada existe a que possamos chamar lugar, pois que, se um houvesse, um que fosse, por mais distante e ínfimo que sendo… lá estaria um português, um só, que bastasse. Não somos o dono nem escravo, mas estamos lá, em todos os continentes e ilhas, simplesmente.
Somos assim… agora, velha Nação na 3ª idade geofísica das nações, mais velhos e conhecedores. Partimos para o mundo e em o descobrindo, descobrimo-nos. Sempre que regressamos trouxemos a descoberta connosco e partilhamos esse sabor da novidade, uns com os outros. Apreendemos e com todos eles aprendemos, outras razões e outros saberes, que nos fortaleceram a solidariedade da partilha. Demos o nosso povo ao mundo e doutros povos nosso fizemos, e tudo apenas, porque pertencemos ao Mundo e este nos pertence.
Se primeiro quisemos ser livres, na independência de um povo que pretende escolher sua historia, logo depois que fomos Portugal, estivemos juntos com os povos que trilham, a rota da sua própria lavra, em contenda com os que sonegam as soberanias, a liberdade, a independência. Por vezes iludidos na forma, por vezes na certeza do agir, fomos sempre e sem igual, os batedores das fronteiras, os primeiros bandeirantes no desbravar da rota da humanidade. Conquistamos novas terras sem ser conquistadores. Irmanados pelo mundo, conhecemos novos deuses, sem indagar Zeus, Alá ou Buda, questionando só as marés.
Estivemos ao lado do povo de Timor, chorando as mesmas lágrimas e rebombando o tambor da mesma guerra, a da liberdade. Pela fé timorense peleamos, por nossa própria convicção.
Juntamos a nossa, à mesma raiva do povo da Palestina, na angústia sofredora do seu makba (tragédia) e exorcizamos a nossa desdita Cruzada, defendendo a mais fraca das partes irmãs, na solidariedade da contenda fratricida. Quisemos que a paz desse abrido aos privados do seu tecto, os que fugiram de suas casas ou por lá ficando intimaram íntifadas, na perfídia dos escravizados, pela mesma cultura que em tempos também tomamos por nossa, quando esta também sofria, no Êxodo, a perseguição. Tudo isso porque sabíamos das terras nascentes do Nilo, conhecíamos já as privações da Lusitânea.
Entre Árabes e Judeus, estará sempre um português… Assim o quer o destino, Oxalá o queira a Pax. Desde as Cruzadas que aprendemos, a amar e a combater moiranas e os mouros. Guardamos seus mitos na nossa génese, com eles espalhamos outra visão do mesmo Deus no mundo e ainda hoje, nas calçadas da Mouraria, sob a luz ímpar da cidade das Sete Colinas, o vento do Sul vem soprar a roupa nos estendais, como um gemer de fado distante, quente e suplicante, num sopro arfante de Cavaleiros do Templo ainda por chegar, ao porto de abrigo... ao Graal.
Fizemos as viagens forjadas pela espada e pela Grei, fomos até à distância de sonhos por revelar, e na viagem levamos sempre no coração, a terra, onde muitos não regressaram, mas que outros em chegando, ditaram com novos mapas, o saber de outros mundo e novas gentes. De toda esta partida, regulamos no tabuleiro das nações, a chegada a outra era, a do mundo esférico e global.
Fomos pioneiros e arautos e portanto fomos Portugal, mas por sê-lo, perdemos com a náusea do ondular dos mares, a noção do domínio feudal, depois que navegados, quisemos apenas, a calmaria das praias, em lá chegando, encontrar e ser gente, ser pertença da terra.
Nas velas, com a Cruz, abertas ao vento, rumamos as naus, em direção ao sonho da chegada, ao mundo das nações, à plêiade em formação das novas cidadanias, às terras de Santa Maria, às novas cidades por construir.
Mas fomos ainda mais longe… às terras do longínquo oriente, de quem abonámos a primeira existência, aqui nas terras da velha Europa*. Fomos até ao distante Tibete dos monges, que habitam na pureza da unidade singular, lá no alto, onde se tocam o sol e a montanha. Vimos este povo ser engolido pelo grande Dragão Chinês, e como que por encanto mágico, atámos os seus ideais à génese do nosso próprio saber. Na desigualdade desta luta por uma autonomia, trocamos a nossa tristeza pela sua jovial alegria, e bebemos ensinamentos de uma milenar sabedoria, que brilha ainda nos olhos dos homens santos, numa esperança sofrida… expatriada do povo perdido por entre as montanhas sagradas, tal como se perdiam os marinheiros nos mares de Neptuno.
série documental RTP2, "Viagem dos Jesuítas Portugueses", de Foral de Ideias
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Apenas porque somos Portugal, somos também os servidores da mística humana, do Reino de Prestes João, o último dos reinos de Aquém e Além-Mar. Por utopia somos também a Grécia dos deuses, que engendraram as novas divindades, somos o povo fazedor das novas nações, por entre a descoberta de novos mundos. Exaltamos uma nova Rainha dos Céus e prostramos a seus pés, a Coroa do Reino da terra e dos mares, em honra da Restauração da Independência (1640) usurpada. Assim, livres, nos demos ao mundo e nessa entrega herdamos toda a terra, as derrota e vitórias de todos os povos, inscritos no azimute da Esfera Armilar, que acena na bandeira de Portugal…
O fundador do Condado Portucalense, El’Rey D. Afonso Henriques cumpria, enfim, o Reino do Portugal e dos Algarves, e o porvir do Império de Portugal Aquém e Além-Mar. Perdido o Império, fica o Portugal do Mundo, do Além-Fronteiras, na mística face com que a Europa fita o pôr-do-sol, fica a Língua da Pátria Mãe… deusa Gaia, fitando o horizonte global do Atlas.
Por Ti, Mundo… Por Tu, Gal!
Somos assim, o Mundo, quiçá, talvez mais…
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Obs. As ordens religiosas foram de extrema importância para o Imperio de Portugal.
*Os Jesuítas portuguese foram os primeiros a chegar ao reino distante do Tibete. Estevão Caçela foi o primeiro ocidental no Tibete, em Shigatse. António de Andrade o primeiro narrador dos hábitos e costumes do povo tibetano, deu a conhecer à europa de 1600 os deuses e crenças dos monges de manto amarelo. Por esta altura Portugal era, dos povos da europa, o mais avançado nos contactos com outras civilizações e povos, graças ao empreendimento dos Descobrimentos, visionado pelo Infante, da Encíclica Geração, D. Henrique, da Dinastia de Avis.
MIM